Ao fim do último dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (24), candidatos podem ficar ansiosos para saber a nota da prova, mas devem ficar atentos para não cometer erros e só levar em consideração o número de acertos no gabarito. O método usado para calcular as notas é a chamada Teoria de Resposta ao Item (TRI).
O educador e especialista em Enem, Mateus Prado explica que a fórmula é composta por um conjunto de modelos estatísticos e permite que o Ministério da Educação (MEC) acompanhe o nível de aprendizagem dos alunos que estão concluindo o Ensino Médio.
Em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o MEC convoca profissionais elaboradores de questões para desenvolverem novas atividades para o exame.
Essas perguntas devem seguir as orientações da Matriz de Referência do Enem, documento com as competências e habilidades que são cobradas no exame.
Contudo, não são esses elaboradores que definem o nível de dificuldade da questão. Para isso, são organizados eventos chamados pré-testes, onde são convidados alguns alunos para responder pela primeira vez a essas novas questões.
“Analisando essas primeiras respostas, a TRI analisa se a questão está adequada, imagine que por um equívoco o gabarito de uma questão foi configurado errado, ou havia duas respostas corretas, ou nenhuma resposta correta, problemas de estrutura etc., o pré-teste já consegue fazer um bom filtro sobre esses casos e essas questões voltam para ajuste do elaborador ou revisor”, disse Prado.
Depois disso, as questões que passaram pelo filtro inicial passa para a segunda fase. A TRI, então, é usada para determinar três características:
— Parâmetro A: índice de discriminação – o quanto uma questão é capaz de separar os alunos que têm a habilidade/conhecimento para respondê-la dos alunos que não têm essa habilidade/conhecimento.
“Esse índice, grosso modo, meio que atesta a qualidade do item. Quanto maior o número, é um sinal de que a questão está bem feita e avalia o que se pretende”, informou o educador.
— Parâmetro C: probabilidade do acerto ao acaso, isto é, a chance de um aluno que não tem a habilidade/conhecimento para responder a questão, selecionar a alternativa correta para ela.
“Boas questões são aquelas que têm baixo valor para esse índice”, ressaltou Prado.
— Parâmetro B: representa a dificuldade da questão, mostra qual o nível mínimo de competência que um aluno precisa ter para responder corretamente a determinada questão.
“Para ficar fácil de entender, questões com altos índices de acerto são considerados fáceis e questões com baixos índices de acerto, difíceis”, apontou.
Após essa análise feita a partir das respostas dos alunos que participaram do pré-teste, a TRI é capaz de atribuir um valor numérico a esse nível de dificuldade.
“Consegue dizer, por exemplo, que uma questão X tem nível de dificuldade 467, que é mais fácil que a questão Y que tem nível de dificuldade 599, e em seguida tem a questão Z com nível de dificuldade 844”, afirmou o profissional.
Com cada questão tento seu respectivo valor, é formada a escala do Enem. Uma reta numérica em que os números, que são as dificuldades das questões, indicam posições.
“Assim, imagine que um aluno tirou a nota 650 em matemática do Enem. Isso significa que a questão de matemática com nível de dificuldade mais alto que ele conseguiu responder, tirando aquelas que o modelo identificou que ele chutou, foi 650. Se por acaso ele errou uma questão com nível de dificuldade 100 por uma distração, o modelo o beneficia porque ele acertou várias outras questões com nível de dificuldade maior”, finalizou Prado.